IV COE - I Desafio

Texto Vencedor por Storm Of Life:
 
Novamente Outono.
Tenho saudades dos Outonos secos que outrora havia. Agora chove sempre, as nuvens aliviam a sua carga da mesma forma que eu alivio a minha. Chorando.
Olho para os vidros embaciados, para o impacto das gotas ferozes que nele embatem e comparo sempre ao embater das minhas lágrimas no vestido branco.

Parasse o tempo um ano atrás.

Naquele dia o pé não parava de bater no chão, num ritmo certeiro que marcava o tempo. O tempo.
- Mas porque é que não para de chover, mãe?
- Sorri – dizia-me confiante, mas com a lágrima pronta a cair e as mãos a tremer de emoção – Este é o primeiro dia do resto da tua vida.

Com o abotoar do último botão do longo vestido veio-me à memória a forma como ele tinha surgido na minha vida, a fila interminável dos correios, o olhar penetrante e a conversa que dali surgiu.
Minutos depois, abandonamos a fila, e conversamos horas a fio. Nunca mais nos separamos. Amávamos a vida que tínhamos construído e éramos felizes.

Uma noite surpreendeu-me com um jantar romântico, velas acesas e vinho num frapé colocado na mesa requintada. Pediu-me em casamento. Queria um daqueles casamentos à antiga, em que o noivo espera horas pela noiva cujo pai trará ao altar. Queria o “na saúde e na doença”, “na riqueza e na pobreza”. Queria o “até que a morte nos separe”.

A mim bastava-me o deleite que sentia na vida que tínhamos.

Acedi por amor, e ali estava eu, nervosa como nunca, pronta para ir para o altar.

O carro parou junto da igreja, alguém fez sinal para que eu não saísse ainda. O noivo estava atrasado. Murmurei qualquer coisa por ele ser um cabrão e fazer-me esperar por ele. Mas os minutos foram passando. A alegria dos olhos dos convidados, deram lugar a alguma tensão e preocupação. As más notícias não tardaram a chegar. Um acidente na estrada, a chuva, o carro que capotou... o choro da família.

Fiquei presa ao banco daquele carro, o coração a bater descontroladamente, o peito a doer. Ardiam-me os olhos.

-Não, não... não!!

Pestanejo os olhos para afastar a memória desse dia.
Ainda te vejo sentado no sofá da nossa casa a chamar por mim em dias de chuva.

Parasse o tempo um ano atrás. E aquele não teria sido o primeiro dia do resto da minha vida.